segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A Influência da Mídia na Sociedade pt.2


Arrombou a Mídia
Rita Lee
“Ai ai meu Deus
O que foi que aconteceu
Com a Mídia Popular Brasileira
Rádio e TV tem jabá
Novelas ditam quem é Star
Eu também quero ser marketeira
Tem sempre na tela um apresentador
Vendendo a tragédia de algum cantor
A fé corre o risco de fugir da igreja
No canal do bispo, comercial de cerveja
De meia em meia hora, uma nova pesquisa
Mas como, se ninguém nunca me analisa?
Por sorte meu controle anda tão descontrolado
Eu mudo de canal e ele aperta o desligado…
isto é uma vergonha!
Jornais falham mais que previsão de economista
Tem crítico da hora que sonha ser artista
Veja a Época de trair com mais prudência
Velho viagrado Isto É a nova tendência
Ricos e Famosos dão as Caras por Capricho
Peladonas de hoje amanhã estão no lixo
Manchete eterna palestinos e judeus
Nossa Faixa de Gaza é na Cidade de Deus…
eu aumento mas não invento!
Em outdoor desfila o mundo fashion très chic
Morrendo de fome as top models têm chilique
Dietas, malhações, botox saem pela goela
Os Big McCoisa fazem mal e dão sequela
Fama Brother fraude no Limite do milhão
Programas de barraco, pegadinhas, que armação!
“Loiras apresentadoras” tentam o estrelato
Mas pra chegar à Hebe haja sola de sapato...
mexeu com você, mexeu comigo!
Editatoriais são pura megalomania
Manipulando minha vida todo santo dia
As FM’s tocam a mesmice que eu não peço
Nada mais parado que parada de sucesso
Um ponto no Ibope custa a alma pro diabo
E eu pago pra enfiar TV à cabo pelo rabo
Quatro enxeridas falam mais que Zarathustra
É isso que dá juntar mulher de Saia Justa…
Um beijo do gordo!”

Arrombou a Mídia é uma versão da música Arrombou a Festa, inicialmente uma composição da parceria de Rita Lee com Paulo Coelho, em que ironizava os personagens dos sucessos da década de 1970. A música foi um grande sucesso, e rendeu uma outra versão, na qual a cantora faz críticas à forma que a mídia utiliza seu espaço e sua influência para influenciar nossa sociedade.
De uma forma bem explícita, Rita Lee tenta mostrar que a mídia adotou um estilo padrão fazendo com que as pessoas esquecessem do restante da cultura brasileira, e não somente em um requisito musical.
Ela tenta deixar bem claro que o objetivo deles é distrair a população, fazendo com que ninguém realmente pare para fazer uma análise do que se passa, exaltando as futilidades do cotidiano, como cita o filosofo, cientista cognitivo e linguista Noam Chomsky, em sua lista das “10 estratégias de manipulação através dos meios de comunicação em massa”, na qual a primeira estratégia é “A estratégia da distração”.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. Podemos perceber como a TV, principalmente, utiliza bastante desta estratégia para a manipulação. A grade de programas, que tem as novelas e o futebol como prioridades fazem com que as pessoas tirem o foco de áreas realmente importantes para sua vida, como a política e a economia.
Ao dizer “Tem sempre na tela um apresentador / Vendendo a tragédia de algum cantor”, a cantora faz referência à tragédias que sempre são noticiadas e muito repercutidas, e muitas vezes expondo informações ou imagens que deveriam ser privadas para o aumento do IBOPE. Caso que pode ser explicado pela frase do famoso sociólogo polonês Zygmunt Bauman: “Em nossa sociedade, Expor o privado é uma virtude e um dever público”.
“Em outdoor desfila o mundo fashion très chic / Morrendo de fome as top models têm chilique / Dietas, malhações, botox saem pela goela”. Nestes versos, percebemos que Rita quis criticar os padrões de beleza impostos pela mídia, onde expõem apenas mulheres com corpos perfeitos e cabelos lisos. Alguns autores desenvolveram trabalhos sobre o assunto, como Augusto Cury, em seu livro “A ditadura da beleza e a revolução das mulheres”, no qual faz duras críticas à essas imposições da mídia, que fazem com que mulheres queiram atingir esses padrões, e sofram por isso, como na citação: “Influenciadas pela mídia e preocupadas em corresponder aos inatingíveis padrões de beleza que são apresentados, inúmeras mulheres mutilam sua auto-estima-e, muitas vezes, seus corpos- em busca da aceitação social e do desejo de se tornarem iguais ‘as modelos que brilham nas passarelas, na TV e nas capas de revistas.”

Os trechos “Editatoriais são pura megalomania / Manipulando minha vida todo santo dia” e “Jornais falham mais que previsão de economista /
Tem crítico da hora que sonha ser artista”, falam da manipulação da mídia, que Chomsky cita em sua lista como a sétima estratégia: “Manter o público na ignorância e na mediocridade”, ou seja, fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. Os meios de comunicação, como a TV, o rádio e os jornais, utilizam suas visões e suas vertentes como se fossem fatos, omitindo informações, e distorcem a realidade, fazendo com que as pessoas já recebam a informação com uma opinião formada que a mídia quer que eles recebam.


A canção termina com a frase “Um beijo do gordo!”, com a qual Rita Lee faz referência ao famoso bordão do apresentador Jô Soares, do qual sempre utiliza para concluir seus programas na televisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário